segunda-feira, 13 de março de 2017

Livro vs Filme: O Orfanato para Crianças Peculiares da Srta. Peregrine [SEM SPOILER]



O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares ganhou muito destaque no ano passado, principalmente após o anúncio de sua adaptação para o cinema. A obra de Ransom Riggs conta a história de Jacob Portman, um adolescente que tem uma vida completamente mediana, principalmente se levando em conta que o garoto cresceu acreditando num mundo de fantasias, graças as histórias que seu avô, Abe, lhe contava. Abe contava histórias de sua infância e vida, tendo sido órfão, convivido com pessoas com características peculiares e lutado na guerra. É no infortúnio de uma estranha ligação recebida do avô, enquanto estava em seu emprego no supermercado da família, que Jacob sabe que algo está errado: ao telefone, o velho fala para que o menino tome cuidado, pois eles estão em perigo. E é aí que a vida de Jacob começa a ter reviravoltas que ele jamais imaginaria – e são os enigmas deixados pelo seu avô e as histórias ouvidas por toda sua infância que o guiarão na jornada que vem a seguir.


A adaptação pra cinema foi feita pelo Tim Burton, famoso por filmes como Edward Mãos de Tesoura e A Fantástica Fábrica de Chocolates e, conhecendo o estilo sombrio do diretor, com certeza se esperava uma adaptação exatamente no clima do livro. Porém não foi o que ele entregou.



Logo pela capa e contracapa do livro, este transmite um ar certamente macabro e as fotos são elementos intensificadores da trama, já que elas se combinam com a narrativa (de uma forma incrível, diga-se de passagem). Enquanto isso, no trailer e no pôster do filme já é entregue, de cara, um ar muito mais feliz, claramente observado na gama de cores e o rumo da fantasia que a história aponta que irá tomar – não que a história original não seja propriamente de fantasia, mas o tom destoa fortemente entre um e outro. Para quem esperava algo mais misterioso, num clima A Noiva Cadáver ou Sombras da Noite (para quem não sabe, também filmes dirigidos por Tim Burton), as expectativas não estão nem perto de serem atendidas.


Capa do livro que ganhou sua versão equivalente ao pôster o filme.
 
Quanto a trama, pode-se até mesmo dizer que o roteiro do filme é como uma história alternativa, já que, a partir de certo ponto os rumos tomados são completamente diferentes, como se tivessem optado por apenas se inspirar e não realmente adaptar o livro.

A história do primeiro livro é simples e daria para adaptar perfeitamente num filme – são 332 páginas (3ª edição, editora Leya), porém há muitas divagações do Jacob, que não cabem necessariamente na transcrição para as telas; logo, todas cenas de exploração e ação poderiam ser colocadas no longa-metragem. 


Como dito anteriormente, a história parece ser uma alternativa criada pelo próprio diretor e seus roteiristas, já que é modificada em sua grande parte. Primeiramente, personagens importantes são excluídos da trama e outros modificados: Emma, que ganha um papel de protagonismo a partir de certo ponto, tem sua peculiaridade modificada – trocam seu poder de criar fogo, o que é elementar no desenrolar do enredo, com o poder de Olive, que é o de levitar, sendo que a última, além de receber o poder de Emma, ganha alguns anos a mais. A descaracterização de personagens ainda se desponta quando os vilões perdem seu tom obscuro e ganham um caráter satirizado. 


Do lado esquerdo, Emma na versão do cinema. A direita, Olive na versão cinematográfica. A Olive dos livros é a  garotinha que aparece na capa original (início do post).
 
Cenários importantes para a jornada e investigação de Jake são eliminados e outros são criados. Inclusive, nas cenas finais do desfecho do filme, há a criação de uma situação e um cenário que seria, certamente, impossível de aparecer na ambientação criada por Ransom Riggs; este e outros momentos – além da perca do tom obscuro - dão a entender que houve uma tentativa de fazer o filme abranger mais um público infantil e não atender o círculo de Young Adults da obra original.


Não se tem, ao menos por enquanto, previsões para que haja uma continuação da história sendo levada para as telas – o que seria equivalente a história de Cidade dos Etéreos, o segundo livro da trilogia – mas caso optem por continuar, seu enredo seria prejudicado e seria um grande desafio adaptá-lo, já que com as modificações feitas em Lar da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares não permitem que a história siga o caminho dos livros (fora que este é muito maior e mais complexo que o primeiro e se nem ele conseguiram adaptar de forma satisfatória...).


Se você viu o filme e gostou: dê uma chance aos livros, você vai se apaixonar completamente e perceber que são muito melhores. Se você viu o filme e não gostou: dê uma chance aos livros, você tem chances enormes de se impressionar. E se você leu os livros, cuidado: a decepção com o filme está a nível da adaptação de Percy Jackson para o cinema.


Antes que seja contestada a qualidade da obra: Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares é uma história sólida, com personagens cativantes e é muito fácil de se envolver. É algo revolucionário, de outro mundo? Não. Contudo, é, com toda certeza, uma daquelas leituras que você deve dar uma chance e se deixar levar.



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