O Orfanato da Srta. Peregrine
para Crianças Peculiares ganhou muito destaque no ano passado, principalmente
após o anúncio de sua adaptação para o cinema. A obra de Ransom Riggs conta a
história de Jacob Portman, um adolescente que tem uma vida completamente
mediana, principalmente se levando em conta que o garoto cresceu acreditando
num mundo de fantasias, graças as histórias que seu avô, Abe, lhe contava. Abe
contava histórias de sua infância e vida, tendo sido órfão, convivido com pessoas
com características peculiares e
lutado na guerra. É no infortúnio de uma estranha ligação recebida do avô,
enquanto estava em seu emprego no supermercado da família, que Jacob sabe que
algo está errado: ao telefone, o velho fala para que o menino tome cuidado,
pois eles estão em perigo. E é aí que a vida de Jacob começa a ter reviravoltas
que ele jamais imaginaria – e são os enigmas deixados pelo seu avô e as
histórias ouvidas por toda sua infância que o guiarão na jornada que vem a
seguir.
A adaptação pra cinema foi feita
pelo Tim Burton, famoso por filmes como Edward Mãos de Tesoura e A Fantástica
Fábrica de Chocolates e, conhecendo o estilo sombrio do diretor, com certeza se
esperava uma adaptação exatamente no clima do livro. Porém não foi o que ele
entregou.
Logo pela capa e contracapa do
livro, este transmite um ar certamente macabro e as fotos são elementos
intensificadores da trama, já que elas se combinam com a narrativa (de uma
forma incrível, diga-se de passagem). Enquanto isso, no trailer e no pôster do
filme já é entregue, de cara, um ar muito mais feliz, claramente observado na
gama de cores e o rumo da fantasia que a história aponta que irá tomar – não
que a história original não seja propriamente de fantasia, mas o tom destoa
fortemente entre um e outro. Para quem esperava algo mais misterioso, num clima
A Noiva Cadáver ou Sombras da Noite (para quem não sabe, também filmes
dirigidos por Tim Burton), as expectativas não estão nem perto de serem
atendidas.
Capa do livro que ganhou sua versão equivalente ao pôster o filme.
Quanto a trama, pode-se até mesmo
dizer que o roteiro do filme é como uma história alternativa, já que, a partir
de certo ponto os rumos tomados são completamente diferentes, como se tivessem
optado por apenas se inspirar e não realmente adaptar o livro.
A história do primeiro livro é simples
e daria para adaptar perfeitamente num filme – são 332 páginas (3ª edição,
editora Leya), porém há muitas divagações do Jacob, que não cabem
necessariamente na transcrição para as telas; logo, todas cenas de exploração e
ação poderiam ser colocadas no longa-metragem.
Como dito anteriormente, a
história parece ser uma alternativa criada pelo próprio diretor e seus
roteiristas, já que é modificada em sua grande parte. Primeiramente,
personagens importantes são excluídos da trama e outros modificados: Emma, que
ganha um papel de protagonismo a partir de certo ponto, tem sua peculiaridade
modificada – trocam seu poder de criar fogo, o que é elementar no desenrolar do
enredo, com o poder de Olive, que é o de levitar, sendo que a última, além de
receber o poder de Emma, ganha alguns anos a mais. A descaracterização de
personagens ainda se desponta quando os vilões perdem seu tom obscuro e ganham
um caráter satirizado.
Do lado esquerdo, Emma na versão do cinema. A direita, Olive na versão cinematográfica. A Olive dos livros é a garotinha que aparece na capa original (início do post).
Cenários importantes para a
jornada e investigação de Jake são eliminados e outros são criados. Inclusive,
nas cenas finais do desfecho do filme, há a criação de uma situação e um
cenário que seria, certamente, impossível de aparecer na ambientação criada por
Ransom Riggs; este e outros momentos – além da perca do tom obscuro - dão a
entender que houve uma tentativa de fazer o filme abranger mais um público
infantil e não atender o círculo de Young Adults da obra original.
Não se tem, ao menos por
enquanto, previsões para que haja uma continuação da história sendo levada para
as telas – o que seria equivalente a história de Cidade dos Etéreos, o segundo
livro da trilogia – mas caso optem por continuar, seu enredo seria prejudicado
e seria um grande desafio adaptá-lo, já que com as modificações feitas em Lar
da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares não permitem que a história siga o
caminho dos livros (fora que este é muito maior e mais complexo que o primeiro
e se nem ele conseguiram adaptar de forma satisfatória...).
Se você viu o filme e gostou: dê
uma chance aos livros, você vai se apaixonar completamente e perceber que são
muito melhores. Se você viu o filme e não gostou: dê uma chance aos livros,
você tem chances enormes de se impressionar. E se você leu os livros, cuidado:
a decepção com o filme está a nível da adaptação de Percy Jackson para o
cinema.
Antes que seja contestada a
qualidade da obra: Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares é uma
história sólida, com personagens cativantes e é muito fácil de se envolver. É
algo revolucionário, de outro mundo? Não. Contudo, é, com toda certeza, uma
daquelas leituras que você deve dar uma chance e se deixar levar.
Avaliação:
Livro: ♥♥♥♥♥
Filme: ♥♥♥♥♥
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